Qual o papel da governança nas startups e sua importância no ecossistema

Não importa o tamanho ou a natureza de uma empresa, a governança sempre deve ser um ponto de atenção. Afinal, esse termo, que é frequentemente associado a grandes empresas, tem a ver com a forma como as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas. E, independentemente do tamanho e da natureza da organização, é preciso que exista uma administração de qualidade, desde o início, para que o negócio cresça de forma saudável.

No caso das startups, empresas ágeis que buscam o crescimento exponencial, não seria diferente. O que muitas vezes pode assustar os empreendedores, quando se fala em governança, é pensar ser necessário grandes estruturas organizacionais e processos pesados que façam esse sistema funcionar. Em outras palavras, demandas burocráticas e despesas incompatíveis com uma empresa nascente. Porém, no inicio de tudo, um bom acordo de sócios pode ser suficiente, evitando sérios problemas no futuros que impeçam o pleno desenvolvimento da startup.

“Esse instrumento deve, entre outros pontos, prever direitos e deveres dos sócios, assim como as regras para o caso da saída de um sócio ou transação de suas cotas. Basicamente são as regras do jogo”, afirma Cecília Andreucci, associada da Gávea Angels e especialista em governança.

Estruturas mais complexas, como comitês, conselho de administração, auditoria interna e independente, são elementos que surgem com a evolução de cada empresa. Assim, uma startup com apenas dois sócios na operação não vai precisar de um comitê de auditoria, mas precisará ter claro, entre seus sócios, as regras e os limites que guiam a tomada de decisão. Um exemplo é até onde cada sócio, individualmente, pode decidir sozinho, e quando é necessário a aprovação de todos ou da maioria.

“Governança corporativa existe para startup de qualquer tamanho, mas cada uma deve absorver as práticas adequadas ao seu próprio tamanho e grau de maturidade”, explica Claudia Elisa, associada à Gávea Angels desde 2019.

A boa governança amplia as chances de atrair os investidores e de geração de valor

Quando uma startup investe na sua governança, tende a colher bons frutos. Alguns dos benefícios diretos da boa governança são o aprimoramento da administração, a valorização da imagem institucional, resoluções construtivas de conflitos, maior retenção e atração de talentos, e, muito importante para as startups, maiores chances de atrair investidores.

Com regras claras sobre como as decisões são tomadas, com o monitoramento transparente dos resultados, os empreendedores acabam criando disciplina para tocar o negócio de acordo com as regras estabelecidas, o que agrada potenciais investidores. “Se o investidor entender que aquela empresa não tem e não aceita bem a governança, o investimento não vai chegar”, alerta Marcelo Deschamps, presidente da Gávea Angels.

E, muito provavelmente, com a chegada desses investidores, essas regras terão que ser aprimoradas, ganhando novas camadas de complexidade. Mas, certamente, o empreendedor já habituado com a governança, entenderá como isso funciona e vai lidar com essas questões de uma forma mais natural e efetiva. Uma empresa pequena, sem equipe para cuidar de todas as áreas, tende a olhar apenas para o momento, sem exercitar a visão de médio e longo prazo, o que poderá implicar em grandes perdas. “Quando faz isso, a startup acaba entrando num círculo vicioso de só ficar resolvendo os problemas de agora. Então, o risco da startup sem governança é perder um pouco da visão helicóptero, porque o empreendedor fica focado apenas no dia a dia”, avalia Claudia. E a governança ajuda a estruturar esse olhar de longo alcance.

A importância do grupo de investidores-anjos

A entrada do smart money faz surgir mais regras de governança, mas também traz mais conhecimento e network para os empreendedores, abrindo portas e trazendo oportunidades para a startup. É um jogo de ganha-ganha.

A Gávea Angels é conhecida por valorizar a governança nas startups que avalia. E quando faz um investimento, sempre nomeia um representante para estar próximo aos empreendedores. Caso a empresa já tenha um conselho de administração, esse representante geralmente fará parte do colegiado. Caso a startup ainda não o tenha, vai apoiá-la na sua criação. A ideia é que esse representante seja o canal de comunicação do empreendedor com toda a rede de associados, identificando quem pode contribuir com as necessidades da startup naquele momento. “O maior valor que uma startup ganha ao ser investida por um grupo como a Gávea é fazer parte de uma comunidade referência à qual ela pode recorrer para melhorar o negócio, incluindo a governança”, diz Claudia.

“Startups não devem achar que governança é algo para o futuro. Elas devem começar agora, de acordo com as necessidades do negócio e de olho na longevidade da empresa”, finaliza Marcelo.

Data publicação

11/01/2023

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