No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, a expansão da internet abriu espaço para inovação e empreendedorismo, especialmente de base tecnológica.

Naquele momento, palavras como startup, venture capital e investimento-anjo ainda não eram tão conhecidas e não havia um ecossistema de inovação e startups organizado no Brasil. O que havia era muita expectativa e gente querendo fazer acontecer.

Quando, nos anos 2000, a “bolha da internet” estourou, muitas empresas quebraram e cresceu o olhar de desconfiança para esse universo.

Foi nesse contexto que um grupo de pesquisadores e professores da PUC-Rio resolveu buscar caminhos para a inovação e o empreendedorismo. Eles estavam interessados em um sistema de inovação local e também no desenvolvimento do capital de risco.

Uma das iniciativas que fez parte desse projeto foi uma pesquisa realizada pelo Gênesis Center for Research on Entrepreneurship, Innovation, and Venture Capital (NEP/Gênesis), vinculado ao Instituto PUC-Rio Gênesis, que possui uma incubadora e um programa de graduação em empreendedorismo.

“Esse projeto surgiu para desenvolver o capital de risco no cone sul da América Latina, incluindo Brasil, Uruguai, Argentina e Chile. Foi feito um conjunto de pesquisas sobre capital de risco e investimento-anjo em que comparamos a situação desses países todos”, explica Antônio Botelho, que trabalhou no estudo e é conselheiro honorário da Gávea Angels.

Os estudos foram originalmente financiados pelo International Development Research Center (IDRC), uma organização de desenvolvimento de pesquisa do governo canadense, e, posteriormente, pela FINEP, agência brasileira de inovação vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

Nesta época, capital de risco era um termo ainda muito associado a perdas financeiras no Brasil e gerava medo nos investidores. A pesquisa ajudou a desenvolver uma identidade um pouco mais positiva para a indústria do capital de risco e também mostrou a importância do capital de risco em estágio inicial, incluindo o até então desconhecido investimento-anjo.

Pode-se dizer que a pesquisa lançou a semente que deu início ao ecossistema de startups da América Latina. Como cada país envolvido no estudo estava em um estágio diferente de maturidade com relação ao tema, a forma como os ecossistemas se desenvolveram foi diferente. Porém, certamente, todos eles se beneficiaram dos resultados.

“Formamos pessoas, fizemos relatórios, eventos e congressos que começaram a botar uma semente nas pessoas que estavam preocupadas em pesquisar empreendedorismo, inclusive no sentido de gerar conhecimento para formar políticas públicas”, avalia Botelho.

O RESULTADO DA PESQUISA E A CRIAÇÃO DA GÁVEA ANGELS

Embora realizada no âmbito acadêmico, a pesquisa tinha o objetivo prático de ajudar na criação de instituições que resolvessem um problema de percepção de que os governos na América Latina já haviam aumentado seus gastos em pesquisa e desenvolvimento, mas não tinham produzido os resultados de inovação e comerciais desejados.

No Brasil, esse resultado foi a criação da ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital) e também da Gávea Angels, já que o investimento-anjo é um mecanismo fundamental do ecossistema de investimento de risco em startups porque ajuda no florescimento dessas empresas, que receberão aportes de fundos de investimento em seu momento mais maduro.

Em 2001, o NEP/Gênesis, lançou um programa de fórum local de empreendimentos para apresentar oportunidades de negócios a potenciais investidores. Ex-alunos da Puc-Rio foram convidados e puderam se aproximar do universo de capital de risco e investimento-anjo. E foi desses encontros que surgiu o Comitê Organizador Gávea Angels, que incluiu seis investidores individuais: Ernesto Weber, Charles Spragins, Geraldo Felix Low-Beer, Marcus Fontes, Michael lsaac Barczinski e Paulo Eugênio de Niemeyer.

Em 20 de novembro de 2002 no bairro da Gávea, Rio de Janeiro foi fundada a Gávea Angels.