O mito do empreendedor jovem

Muita gente imagina que os empreendedores mais bem-sucedidos são jovens. Não faltam exemplos disso no panteão do empreendedorismo. Mark Zuckerberg fundou o Facebook aos 19 anos, Steve Jobs tinha 21 quando criou a Apple e Jeff Bezos criou a Amazon aos 30.

E qual não foi minha surpresa ao me deparar com um estudo na Harvard Business Review (https://hbr.org/2018/07/research-the-average-age-of-a-successful-startup-founder-is-45) que mostra que essa ideia não passa de um mito. Os pesquisadores analisaram dados do censo americano e concluíram que a idade média de fundadores de empresas é 42 anos. E, quando são analisadas as mais bem-sucedidas startups, ela sobe para 45 anos de idade. E mais: eles dizem que as chances de um empreendedor de 50 anos ser bem-sucedido é quase o dobro da de um de 30. E os na casa dos 20 têm a pior chance de sucesso.

Nas participações como investidor anjo no Gavea Angels, já havia percebido nos pitches que ótimas teses de investimento muitas vezes tinham por trás empreendedores experientes e este fato talvez tenha me dado confiança para seguir em frente.

Ainda estou no começou da minha jornada como empreendedor que, curiosamente, começou exatamente nos meus 45 anos idade. Sei que um número não garante nada. Então, não tem por que o jovem desistir ou o quarentão já abrir a champanhe. O importante é entender quais são os elementos decisivos que costumam vir com a idade. E aqui destaco três hipóteses levantadas pelos pesquisadores: o maior acesso a capital financeiro, ao capital humano e a experiência. E já adianto que muitos falham nesse terceiro quesito, não por falta de experiência geral, mas bem específica.

Em primeiro lugar, lançar sua própria empresa requer capital e, a não ser que você herde ou que consiga convencer investidores anjo, demora um tempo para acumular o suficiente para arriscar. No meu caso, foram 25 anos de trabalho no mundo corporativo por onde passei por excelentes empresas, como a C&A, a Alpargatas, o Grupo Boticário e a Asics, e criei o “colchão” que me permitiu investir na Brazilian Nuts.

O segundo possível fator de sucesso: um acesso privilegiado ao capital humano, ou seja, o conhecimento de uma rede de profissionais competentes dos mais variados perfis que podem ser fundamentais tanto para alavancar um negócio quanto para unir forças em momentos ou projetos específicos. Além de muitas outras coisas, minha passagem pela Grupo Boticario, por exemplo, me deu meu sócio Paulo Schwarz.

O terceiro elemento é a experiência. Toda experiência é valiosa e a gente sempre aprende com sucessos e fracassos, nossos e dos outros. Mas, segundo a pesquisa feita nos Estados Unidos, não é qualquer experiência que é decisiva. Fundadores de empresas com pelo menos três anos de experiência naquele mesmo ramo bem específico de sua sua startup tinham chance 85% maior de sucesso do que fundadores sem aquela estrada. No meu caso, a experiência no ramo da alimentação foi mais curta, mas resolvi assim mesmo encarar o desafio tendo como fonte o trabalho em outras indústrias.

E essas experiências me abriram os olhos também para o potencial, muitas vezes inexplorado, de alguns setores brasileiros no mercado externo. O “impulso” para um voo solo surgiu passagem pelo E-commerce de produtos naturais, a Natue. Em Março de 2017, fui com os sócios para a maior feira de saudáveis do mundo, a Expo West, em Anaheim, Califórnia. Meus olhos brilharam com a efervescência de pessoas reunidas com o propósito lucrar, mas também de melhorar a alimentação no mundo. O setor de alimentação saudável e wellness cresce como poucos e deve superar U$ 800 bilhões no mundo em 2021. Incorporei aos meus hábitos alimentares e ao meu vocabulário palavras como paleo, organic, superfoods, vegan, entre outras, e tive a chance de conhecer mais de perto marcas como a Innocent, Planters, Kind, Chobani e as brasileiras Bio2 e Pura Vida. Foi ali que a ficha caiu. Era nisso que eu queria investir. Mas o início da Brazilian Nuts só ocorreria em 2020 e não antes de uma passagem pela Asics. Na fase de planejamento, visitei Amsterdã, Berlim, Camboja, Tailândia e Indonésia. Lugares tão distintos, mas com um ponto em comum: todos com grande diversidade de negócios bem-sucedidos na área da alimentação natural.

O pensamento que me incomodava e, ao mesmo tempo, me incentivava era o seguinte: Por que o Brasil, com sua variedade riquíssima de frutas, nozes e sementes, não tem uma marca que expresse de forma global e contemporânea este incontestável ativo? Deixemos os queijos com os franceses, os chocolates com os suíços. Mas as frutas nozes e castanhas são nossas! E elas têm o potencial de formar as novas bases para a alimentação do futuro. Uma pesquisa publicada na Revista Nature (https://www.nature.com/articles/s41586-018-0594-0#Sec1) sugere que nos próximos anos, o consumo de carne deve cair 73% e o de “nuts” e “seeds”, aumentar 282% para que a alimentação faça sua parte no combate ao aquecimento global. Veremos não apenas mais vegetarianos e veganos, como também os “flexitarianos”, que não recusam por completo alimentos de origem animal, mas controlam as porções. É possível que o alimento que vai fazer a cabeça de futuras gerações nem sequer tenha sido inventado. E a Brazilian Nuts está nessa corrida que, para mim, começou aos 45.

Por Breno Salek – Investidor-anjo na Gávea Angels e Founder da Brazilian Nuts.

Data publicação

15/07/2021

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