Buscar investimento é sempre um desafio para os empreendedores. É um jogo de interesses convergentes que precisa de equilíbrio para dar certo, já que enquanto os investidores buscam uma startup promissora, os empreendedores buscam recursos para alavancar sua ideia.
Para João Levy, da Yes We Grow, uma das startups investidas pela Gávea Angels, é importante que os empreendedores se preparem para a busca de investimento. Isso significa analisar o próprio negócio, fazer um bom business plan, ter claro onde se quer chegar e também quais são as habilidades complementares que investidores-anjo podem aportar ao negócio, além do dinheiro.
“Nunca é fácil para uma startup ganhar mercado, ainda mais sem capital. Mas, além desse acesso a recursos financeiros, o acesso a pessoas com abertura para participar do negócio é primordial”, diz.
Esse smart money é uma das oportunidades que vem com o investimento-anjo oferecido pela Gávea Angels, um grupo diverso composto por investidores com expertise em áreas variadas.
“Foi na Gávea que tivemos contato com a Teresa Simões, que é conselheira diretora do grupo e, hoje, profissional co-founder atuando diretamente nas áreas CFO. Ela tem uma bagagem financeira que nos ajuda demais porque nosso time tinha essa lacuna. Então, precisávamos de alguém com essa experiência, não só em controle financeiro, mas também em rodadas, captação e acesso a capital”, conta João.
Para aproveitar uma oportunidade como essa, de acessar uma rede de investidores com habilidades complementares, é importante que os empreendedores tenham flexibilidade e abertura para ouvir o que essas pessoas têm a dizer.
“Não adianta ter um grupo de 30 pessoas ao redor se o empreendedor não vai ouvi-las. Ter autoconfiança é fundamental, mas em excesso gera o risco de cegueira. Quem é autoconfiante demais não escuta o que está acontecendo ao redor, não vê os sinais, não capta as oportunidades e não escuta as recomendações. Aquele empreendedor que não dá abertura para feedback e para se desenvolver como líder acende uma luz amarela nos investidores”, diz Xavier Boutaud, conselheiro diretor da Gávea Angels.
INVESTIMENTO-ANJO AJUDA A AMPLIAR A REDE DE CONTATOS
Outra oportunidade gerada pelo investimento-anjo, segundo João Levy, é o acesso a uma rede que vai além do capital intelectual, já que a maioria dos investidores-anjo está inserida em grandes empresas, o que pode reverberar positivamente nos negócios investidos.
“O acesso a parcerias e a abertura de portas é muito grande porque esses investidores têm contato com muitas empresas e especialistas. E quando empresas pequenas querem acessar outras empresas ou canais de venda, essas pontes fazem toda a diferença”, diz o empreendedor.
Ele conta que na Yes We Grow algumas portas importantes se abriram a partir do contato viabilizado por investidores, inclusive o interesse internacional pela startup.
“Uma pessoa do Canadá acionou nosso investidor porque queria falar com a gente. Ainda não estamos prontos para globalizar, mas existem propostas para isso. São relacionamentos muito interessantes que acontecem através dessa rede de investidores”.
PREPARE-SE PARA LIDAR COM AS ARMADILHAS E A ANSIEDADE PELO DINHEIRO
A busca por investimentos é uma pequena jornada que começa com o empreendedor pesquisando o tipo de investimento e o perfil de investidores com mais aderência ao negócio.
Na Gávea Angels, o acesso dos empreendedores começa com o Screening, segue para o Fórum, onde o empreendedor faz o seu pitch, e, a partir daí, pode ou não evoluir para as negociações.
“Se nesse pitch achamos que vale a pena progredir para uma avaliação, aprofundamos a análise, o que inclui avaliar o modelo de negócios e o business plan, entrevistar os empreendedores e até parceiros deles”, explica Xavier.
Todo esse processo é gerador de ansiedade, principalmente se o empreendedor não tiver se planejado financeiramente para ter fôlego enquanto espera os recursos do investimento entrarem no caixa.
Por isso, a preparação para o investimento é fundamental, diz João. “Sempre existe um rito de captação e cada grupo tem seus processos. Então, quando o empreendedor abre uma rodada, precisa estar com caixa para durar esse período e não entrar em desespero”.
O desespero por recursos pode levar o empreendedor a cair em algumas armadilhas, como a tentação de acessar um capital que pode deixar amarras nem sempre saudáveis para a empresa. Contrapartidas sempre existem, claro, mas é importante buscar o equilíbrio nessa relação.
“Quem está planejando buscar investimento-anjo deve priorizar aqueles grupos com os quais tenha mais sinergia. Não fazer isso e ir pela simplicidade ou apenas por causa de contatos é uma armadilha porque ele pode ficar amarrado a um grupo que, em vez de ajudar, vai atrapalhar”, avalia Xavier.
Outro ponto que pode vir atrelado ao “desespero” é o uso incorreto do capital, independentemente do valor.
“Quando tem acesso a capital, se o empreendedor não está preparado para crescer, vai ser ineficiente com aquele recurso e, nas próximas rodadas, isso vai servir como um comparativo”, diz João.
Esse é um ponto importante porque o investimento-anjo não se encerra naquele aporte recebido. Ele reverbera por toda a startup e vai ser alvo de análises em outras rodadas que a empresa venha a fazer.
Por isso o planejamento é importante. Ansiedades e erros são inevitáveis. Mas é muito mais fácil lidar com eles quando se está preparado para isso.
Por Maisa Infante – Redatora na Gávea Angels e colaboradora no Projeto Draft